terça-feira, 21 de outubro de 2014

Antibióticos II



Quinolonas

ð Quinolonas
o   Ácido nalidíxico
o   Ciprofloxacino
o   Levofloxacino
o   Norfloxacino
o   Ofloxacino
o   Moxifloxacino
o   Gemifloxacino

1) Introdução

Quinolonas são antimicrobianos sintéticos, derivados do ácido nalidíxico (que foi o primeiro fármaco desta classe). Seu mecanismo de ação se baseia por interferir na síntese proteica, sobre enzimas topoisomerases, que são responsáveis pelo espiralamento e manutenção da estrutura terciária do DNA bacteriano e estabilidade durante o processo de transcrição.
Sua ação leva à desconfiguração da molécula de DNA, interrupção da replicação e transcrição e degradação por exonucleases (lesão direta sobre o material genético).

2) Mecanismos de resistência

O principal mecanismo de resistência às quinolonas é a alteração do sítio catalítico das topoisomerases, levando a diminuição da afinidade por quinolona.
Outro importante mecanismo de resistência é a diminuição da permeabilidade por porinas e presença de bombas de efluxo.

3) Aspectos farmacológicos

As quinolonas apresentam boa penetração sérica (exceto norfloxacino) na maioria dos tecidos corporais. Possuem boa comodidade posológica, sendo necessária dose única diária ou administração de 12/12 horas.
Apresentam boa disponibilidade oral, principalmente a levofloxacina (90-100%).
Possuem metabolização hepática parcial, com alta concentração biliar (indicada em tratamento de infecções do trato gastrointestinal) e grande quantidade de metabólitos nas fezes (tendo boa ação contra Salmonela e Shigella).
A excreção renal ocorre sob forma ativa com alta concentração urinária, tanto no parênquima quanto nas vias urinárias (mas lembre-se que já há gram-nefativos resistentes).

4) Espectro de ação

As quinolonas apresentam ação sobre bacilos gram-negativos aeróbios (E. coli, Klebsiella, Proteus, Citrobacter, Serratia, Providencia, Morganella morganii, Salmonaella, Shigella, Campylobacter sp., Yersinia enterocolitica), sendo, portanto, usadas em infecções intestinais, geralmente graves.
Neisseria gonorrhoeae, Haemophyllus influenzae, Moraxella catarrhallis, podem causar infecções de vias aéreas altas e pneumonia, tendo boa ação levofloxacino, moxifloxacino e gemifloxacino (nestes casos  não se deve usar ciprofloxacino), são mais sensíveis às cefalosporinas.
Ciprofloxacino possui boa ação sobre a Pseudomonas aeruginosa.
Staphylococcus aureus e S. epidermidis podem induzir resistência rapidamente em presença de quinolonas, não sendo usadas em infecções de pele (preferir clindamicina ou cefalosporinas de primeira geração).
Steptococcus pneumoniae não é sensível à ciprofloxacino, devendo ser usado levo, Moxi ou gemifloxacino.
Em infecção por agentes “atípicos” (Legionella pneumophilla, Chlamydia sp, e Mycoplasma pneumoniae), por não possuírem parece celular, não são sensíveis aos beta-lactâmicos, devendo ser usado Levo, Gemi ou Moxifloxacino.
Em infecções pelo Vibrio cholerae pode ser usada ciprofloxacino.
Quinolonas são drogas de segunda linha para Mycobacterium tuberculosis (escolha é Rifampicina ou Isoniazida), podendo ser usado Levo ou Norfloxacino. Lembre-se que hepatopatas não usam Rifampicina ou Isoniazida.

5) Indicações gerais

·       Infecções do trato urinário (E. coli e Enterobacterias);
·       Infecções de pele e partes moles (Estrepto pyogenes), pode induzir resistência, preferir clindamicina ou cefalosporina;
·       Infecções gastrointestinais e intra-abdominais (+ anaerobicidas), não possuem atividade contra anaeróbios, pegam gram-negativos de intestino;
·       Infecções respiratórias altas e pneumonias (quinolonas “respiratórias”, levofloxacino, moxifloxacino ou gemifloxacino);
·       Infecções da corrente sanguínea por gram-negativos sensíveis (usar com cautela), preferir carbapenêmicos;
·       Prostatites e DSTs (exceto sífilis), cirpofloxacino.

6) Indicação por classes

6.1) Norfloxacino (Floxacin)

Medicação com baixa absorção oral, baixa concentração sérica mas com concentração urinária maior que a sérica, sendo boa indicação para infecções não complicadas do trato urinário, como cistites ou uretrites. Em caso de ITU grave, deve ser usado ciprofloxacino ou locofloxacino.
Não são indicadas para outras infecções que não a urinária.
É droga de escolha para profilaxia de peritonite bacteriana espontânea (PBE) em hepatopatas. Pois apresenta boa penetração em líquido ascítico, bom espectro contra E. coli e outras bacilos gram-negativos.
Indicação: ascite + HDA ou episódio prévio de PBE, proteína LA < 1,0.
Também pode ser usada enterites e profilaxia de sepse em neutropênicos.

Apresentações:

·       Cp.: 400mg

Posologia

·       Dose habitual: 400mg 12/12 h
·       Se ITU, pode ser usada por 3 dias na simples e até 21 dias nas complicadas.

Obs.: Melhor com água e longe das refeições.
Obs.: Em crianças há risco de necrose da cartilagem.
Obs.: Efeitos colaterais: cefaleia, tontura, fraqueza.

6.2) Ciprofloxacino (Cipro)

Possui atividade contra pseudômonas, sendo indicada em otites, bronquiectasia infectada ou sinusite em pacientes predispostos (fibrose cística), infecções de partes moles (com cultura positiva para pseudômonas), infecção secundária de grande queimado (com swab positivo) e infecções de corrente sanguínea (com cultura positiva).
Não dever ser usada em pneumonias.
Possui atividade moderada contra estafilococo e com rápida indução de resistência, não sendo droga de escolha para tratamento de infecções e partes moles, pele ou osteomielites (preferir cefalosporina de 1ª geração ou clindamicina).
Útil em infecções polimicrobianas envolvendo gram-negativos – pé-diabético – em associação (com clindamicina, por exemplo).
Em DSTs, se N. gonorrheae (uretrite e proctite gonocócica) ou Haemophyllus ducreyi (cancro mole), dose única.
É ativa contra Neisseria, mas contraindicada em meningite por não penetrar a barreira hemato-encefálica. Mas é uma alternativa na profilaxia (escolha é rifampicina).
Pode ser usada em diarreias por cólera ou causada por Campylobacter.

Apresentações:

·       Cp.: 250 e 500mg
·       Frasco IV: 100 e 200 mL com 2mg/mL

Posologia

·       Dose habitual: VO: 500-750mg 12/12h, IV: 200-400mg 12/12h
·       Gonorreia: 500mg, VO, dose única
·       Diarreia: 500mg, VO, 12/12h
·       Infecção urinária não complicada: 500mg 12/12h por 3 dias
·       Infecção urinária complicada: 500mg, VO, 12/12h por 7-14 dias ou 400mg 12/12h por 7-14 dias

Obs.: Passe o uso da droga para via oral assim que possível (eficácia semelhante).
Obs.: No uso oral, tomar 1 horas antes ou 2 horas após as refeições.
Obs.: A apresentação intravenosa já vem diluída.
Obs.: Correção para insuficiência renal: Clcr < 30: administrar em 18/18h ou 24/24h.
Obs.: Efeitos colaterais: vômitos, náuseas, diarreia, dispepsia.

6.3) Levofloxacino (Tavanic) – Quinolona com disponibilidade oral de 100% e eliminação rena de 80%. Com boa penetração pulmonar e trato urinário. Fluoruinolona respiratória

Faz parte da chamada terceira geração ou “quinolonas respiratórias”. É administrada em dose única. Possui ótima concentração sérica e penetração pulmonar, sendo útil em pneumonias (a contração pulmonar é 2 a 5 vezes maior que a sérica).
Possui atividade contra gram-positivos, incluindo Streptococcus pneumoniae.
Possui menor atividade contra pseudômonas.

Espectro de ação:

·       Pneumococos resistentes à penicilina
·       Haemophyllus influenzae, Moraxella catarrhalis, Legionela, Clhamydia e Mycoplasma.

Assim, a principal indicação da Levofloxacino é o tratamento de pneumonias adquiridas na comunidade e hospitalares precoces (até 5 dias de internação).
Outras indicação da levofloxacino são:

·       Exacerbação aguda de bronquite crônica quando há evidencia de infecção;
·       Rinossinutite aguda e cronica;
·       Infecções complicadas do trato urinário;
·       Droga alternativa nas infecções de pele e subcutâneo (por induzir resistência rapidamente);
·       Infecções intestinais por Salmonaella, Shigella, Campylobacter jejunii e Yersinia enterocolítica (lembre-se que a ciprofloxacino concentra mais e luz intestinal e fezes).

Apresentações

·       Cp. revest.: 250 e 500mg
·       Bolsa: 500mg (100mL)

Posologia

·       Dose habitual: EV-VO: 250 a 750mg 24/24h
·       ITU e pielonefrite: 250mg, 12/12h, 10 dias
·       Pneumonia comunitária ou hospitalar: 500mg, 12/12h, 7-14 dias
·       Rinossinusite: 500mg, 12/12h, 10-14 dias
·       Bronquite crônica: 500mg, 12/12h, 7 dias

Obs.: Para uso intravenoso, fazer diluição de 5mg/mL e correr em 60 minutos.
Obs.: Efeitos colaterais: diarreia, vômitos, náuseas, do abdominal, dispepsia.

6.4) Ofloxacino (Flogirax)

Quinolona com biodisponibilidade oral de 90%. Possui espectro e indicação muito simular ao da ciprofloxacino, porém com menor atividade para pseudômonas.
No Brasil, é tratamento alternativo para tuberculose em hepatopatas. É opção secundária para tratamento de hanseníase.

Apresentações

·       Cp.: 200mg
·       Fr. amp.: 400mg (10mL)

Posologia

·       Dose habitual: EV-VO: 200-400 mg, 12/12h

Obs.: Diluir em SF0,9% a 4mg/mL e infundir em 60 minutos.
Obs.: Efeitos colaterais: náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal, dispepsia.

6.5) Moxifloxacino (Avalox) – fluorquinolona respiratória

Possui espectro de ação e penetração muito similar ao da levofloxacina.
As principais indicações são:

·       Infecções respiratórias (sinusite, bronquite, pneumonia comunitária e hospitalar)

Apresentações

·       Cp.: 400mg
·       Bolsa: 400mg (250mL)

Posologia

·       Dose habitual: EV-VO: 400mg, 24/24h

Obs.: Deve ser observado o prolongamento do QT (pode levar a distúrbios eletrofisiológicos).
Obs.: Efeitos colaterais: náuseas, vômitos, diarreia, cefaleia, tonteira, alergia.

6.6) Gemifloxacino – Fluorquinolona respiratória

Mais potende contra gram-positivos, sendo 32x mais potente contra penumococos que a levofloxacino. Não apresenta ganho em espectro e sim em potência.
Possui atividade contra gram-negativos semelhante às demais fluorquinolonas.
Ativa contr Chlamydia, Mycoplasma e Legionella.
Principais indicações:

·       Pneumonia comunitária e exarcabação aguda de bronquite crônica

7) Efeitos colaterais das quinolonas

São mais comuns a intolerância gastrointestinal:

·       Anorexia, náuseas, vômitos, desconforto abdominal e diarreia.
·       Hepatotoxicidade é raro.

Também pode ocorrer:

·       Hipersensibilidade: urticária e rash fixo (menos comum que em beta-lactâmicos).
·       Neurotoxicidade: cefaleia, tontura, sonolência, delírios, alucinações, convulsões (raramente), em idosos por ser causa de delírios e alteração do nível de consciência.
·       Efeito tóxico sobre cartilagem epifisária: contraindicada em gestantes e menores de 12 anos.

·       Prolongamento o QT: moxifloxacino, cautela em pacientes com distúrbios de condução e ritmo cardíaco.

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