domingo, 19 de outubro de 2014

Ausculta Cardíaca I

Ausculta Cardíaca I


Os Sopros Sistólicos

Há algum tempo tenho percebido muita dificuldade por parte dos alunos na ausculta cardíaca.

Hoje quero falar um pouco sobre os sopros sistólicos. Este pequeno texto é baseado em um livro de semiologia que estou escrevendo, em breve terei mais notícias.

Antes de continuar, sugiro que faça uma revisão sobre o ciclo cardíaco, que será de grande valia para compressão deste texto.

Vamos ao assunto:

Durante a sístole ventricular, temos o sangue passando pela valva aórtica em direção a aorta e pela valva pulmonar em direção ao tronco da artéria pulmonar. Também temos as valvas atrioventriculares (mitral e tricúspide) fechadas, impedindo o retorno do sangue para os átrios.

Assim, durante a sistole ventricular podemos encontrar, basicamente, dois problemas: as valvas atrioventriculares insuficientes (insuficiência mitral ou insuficiência tricúspide), permitindo o regurgitação dos sangue aos átrios OU valvas aórtica e pulmonar estenóticas, fazendo com que o sangue tenha dificuldade para passar para a aorta ou tronco da artéria pulmonar durante a ejeção sistólica.

Como a dificuldade do sangue em passar pelas valvas aórtica ou pulmonar estenosadas ou pelas mitral o tricúspide insuficientes ocorre durante a sístole, estes sopros coincidem com pulso carotídeo. Assim, para definirmos de um sopro é sistólico ou diastólico, basta verificarmos o pulso, se o sopro coincide com o pulso é sopro sistólico, se não coincide, é sopro diastólico.

Desta forma, temos dois tipos de sopro sistólico, um ejetivo e um de regurgitação. 


Sopro Sistólico de Ejeção


O sopro sistólico de de ejeção ocorre quando o sangue passa com dificuldade pela valva aórtica (estenose aórtica) ou pela valva pulmonar (estenose pulmonar).

Para que o sangue passe por estas valvas estenosadas um gradiente de pressão tem de ser gerado, para que ele "vença" a estenose, a dificuldade para passar por estas valvas. Assim, nestes sopros de ejeção ouvimos bem a primeira bulha (B1) e em seguida percebemos o sopro, que aumenta de intensidade a medida que a força de contração aumenta e volta a diminuir com a diminuição da massa sanguínea que passa por estas valvas.

Nestes sopros de ejeção temos, portanto:

a) Ocorre   Após B1 (após a fase de contração isovolumétrica)
b) o   Lenta a ejeção no início, rápido no meio e volta a ser lenta (sopro crescendo-decrescendo) com padrão em diamante
c) o   Sopro termina antes de B2
d) Sopro mesosistólico
e) Aórtico x pulmonar:

  • Aórtico: mais audível no foco aórtico, pode ter frêmito aórtico, pode ser acompanhado de pulso anacótico ou parvus et tardus, irradiação frequente para fúrcula e carótida, não se altera significativamente na inspiração
  • Pulmonar: mais audível no foco pulmonar, pode ter frêmito pulmonar, não altera pulso periférico, pouca irradiação para fúrcula e não irradia para carótidas, aumenta de intensidade na inspiração profunda



Sopro Sistólico de Regurgitação

O sopro sistólico de regurgitação ocorre quando, durante a sístole, o sangue volta pelas valvas atrioventriculares, por insuficiência mitral ou insuficiência tricúspide.

Como estas valvas estão insuficientes, logo que se inicia a sístole, o sangue já começa a ser "regurgitado" iniciando o sopro junto com B1 e, enquanto ocorrer a sístole, o sangue estará voltando para os átrios, chegando até B2.

Nestes sopros de regurgitação temos:

a) o   Audível desde o início da sístole (aparece junto a B1 – mascarando-a)
b) o   Ocupa toda a sístole (holossistólico), com intensidade mais ou menos igual durante toda a sístole (sangue regurgita durante toda contração ventricular)
c) o   Termina imediatamente antes de B2, podendo mascará-la
d) o   Mitral x tricúspide


  • Mitral: mais audível no foco mitral, irradia para axila, melhor auscultado em decúbito lateral esquerdo
  •  Tricúspide: mais audível em foco tricúspide, pouca irradiação, melhor auscultado na fase final da inspiração profunda


Podemos concluir o seguinte:

Diante de um sopro:

1) Determina se é sistólico ou diastólico (sistólico coincide com pulso carotídeo)
2) Determine se é holossistólico (abafando B1 e/ou B2) ou mesossistólico (com B1 e B2 nítidos)
3) Holossistólico = Sopro sistólico de regurgitação = Insuficiência mitral ou tricúspide
4) Mesossistólico = Sopro sistólico de Ejeção = Estenose aórtica ou pulmonar

Em breve aprofundaremos mais no assunto e também falarei sobre bulhas, sopros diastólicos e muitas outras coisas sobre o ciclo cardíaco.







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