ð O termo
convulsão, embora obedecendo ao mesmo mecanismo fisiopatogênico, é reservado
àquelas manifestações clínicas que se expressam por distúrbios motores:
tônicos, clonicos, Tonico-clônicos etc. Descarga bio-energética emitida pelo
cérebro que provoca contracções musculares gerais e generalizadas. Ataque
episódico, que resulta da alteração fisiológica cerebral e que clinicamente se
manifesta por movimentos rítmicos involuntários e anormais, que são
acompanhados de alterações do tónus muscular, esfíncteres e comportamento;
ð Epilepsia: condição
crônica de um de um grupo de doenças que tem em comum crises motoras,
sensitivas, sensoriais, psíquicas, etc. que decorrem de descargas neuronais
súbitas, intensas e desorganizadas;
ð Crise
convulsiva: termo usado para designar episodio isolado;
ð Distúrbio
convulsivo: é um distúrbio crônico e recorrente (epilepsia);
ð Mioclonia:
contração muscular involuntária, brusca e de duração muito breve;
ð Clonico: breve
contrações musculares que se repetem em breves intervalos de tempo ou contração
muscular duradoura que interrompe de forma intermitente;
1. Fisiopatologia das convulsões:
ð Seja qual for a
causa, ou o tipo de crise convulsiva, o mecanismo básico é o mesmo. Há
descargas eléctricas
o De origem nas áreas
centrais do cérebro (afectam imediatamente a consciência);
o De origem numa área
do córtex cerebral (produzem características do foro anatómico em particular);
o Com início numa área
localizada do córtex cerebral e alastrando-se a outras porções do cérebro
2. Classificação (baseia-se nas
manifestações clínicas e achados EEGs) das crises:
ð Parciais: decorrem de
disfunções em regiões isoladas do cérebro;
o Simples: preservação
plena da consciência;
o Complexas:
comprometem a consciência;
o Com generalização
secundária:
ð Primariamente
generalizadas: disfunção cerebral global. Têm início súbito, sem pródromos, são
sempre simétricas e ocorrem em pessoas sem qualquer anormalidade ao exame neurológico.
Ao EEG, quando presentes, apresentam alterações de ambos os hemisférios
cerebrais, sem início focal detectável (o que caracteriza as crises parciais):
o Ausência (pequeno
mal): lapsos bruscos e súbitos de consciência; sem perda do controle postural,
de duração efêmera e sem confusão pós-ictal (confusão mental depois da crise.
Icto= ataque súbito), quase sempre começa na infância ou no início da
adolescência;
o Tônico-clônicas
(grande mal): início bruscos, sem pródomos. A fase inicial caracteriza pela
contração tônica da musculatura de todo o corpo, dura cerca de 10 a 20 segundos
e evolui para a fase clônica, a fase pós-ictal caracteriza-se por
irrsponsividade, flacidez muscular e salivação excessiva, podendo causar
respiração estridulosa e obstrução parcial das vias aéreas;
o Tônicas:
o Atônicas:
apresentam-se como perda súbita do tônus postural por 1 a 2 segundos. Há breve
perda da consciência, mas não costuma ocorrer confusão pós-ictal;
o Mioclônicas:
contrações musculares súbitas e breves que podem acometer uma parte ou todo o
corpo;
ð Crises não
classificadas:
o Convulsões neonatais:
o Espasmos do lactente
Obs.: deve-se diferenciar crises
generalizadas das crises parciais secundariamente generalizada, pois o a
abordagem difere diametralmente;
ð As crises convulsivas
e portanto aquelas que apresentam manifestações motoras, sejam ou não
primariamente generalizadas e não de outra natureza, potencialmente podem vir a
constituir uma emergência médica;
ð A classificação
etiológica é fundamental para a organização e abordagem diagnóstica,
terapêutica e prognóstica;
3. Manifestações clínicas
ð Movimentações
oculares espásticas repetidas;
ð Lábios azulados,
ð Olhos virados para
cima;
ð Perda de sentidos;
ð Salivação abundante
ð Eliminação de urina
ou fezes na crise;
4. Avaliação diagnóstica
ð História clínica,
geralmente dirigida a testemunhas e familiares:
o Paciente pode não
recordar da fase ictal e pós-ictal;
o Testemunhas e
familiares devem ser entrevistados para caracterizar a crise em parcial ou generalizada;
o Fatores de risco e eventos
predisponentes das crises generalizadas:
§ Doenças infecciosas e
parasitárias: meningites, encefalites, neurocisiticercose, esquistossomose,
neurossífilis, abscesso cerebral, abscesso epidural ou subdural;
§ Fatores genéticos e
de nascimento: epilepsia idiopática ou essencial, inclusão cromossômica,
traumas, asfixia e infecções perinatais, defeitos do desenvolvimento;
§ Fatores tóxicos e
drogas: monóxido de carbono, substancia metálica, inseticidas,
organofosforados, atropina, lidocaína, quimioterápicos, simpaticomiméticos,
abstinência de sedativos e hipnóticos, quinolonas, isoniazida, psicotrópicos,
imunossupressores, contrastes radiológicos e teofilina;
§ Mecanismos
imunológicos: doença do soro, encefalomielite, anafilaxia;
§ Traumas ou agentes
físicos: TCE agudo, hematoma e efusão subdural ou epidural, cicatriz
meningocerebral pós-truama, hiperpirexia, anóxia ou hipóxia;
§ Doenças vasculares:
hemorragia subaracnóidea, infartos corticais antigos, arteriosclerose cerebral,
tromboflebite cerebral com isquemia cortical e infarto, hematomas, vasculites
cerebrais arteriovenosas, doença falciforme, encefalopatia hipertensiva,
ergotismo (Intoxicação causada pela ingestão de grãos ergotizados ou pelo
uso mal direcionado ou excessivo de ergot como medicamento);
§ Doenças e/ou
distúrbios metabólicos e nutricionais: encefalopatia hipóxica, distúrbios
hidroeletrolíticos (hiponatremia, hipernatremia, hipocalcemia, hipomagnesemia),
distúrbio do metabolismo dos carboidratos, doenças de armazenamento dos
lipídeos, aminoacidúrias, porfiria aguda intermitente, como hepático,
tempestade tireoidiana;
§ Doenças neoplásicas;
§ Doenças degenerativas
o Fatores de risco e
eventos predisponentes das crises parciais (localizadas):
§ Lesões intracranianas
em “massa”;
§ Lesões vasculares;
§ Infecções
§ Malformações
o Antecedentes
familiares e pessoais podem revelar dados decisivos para diagnóstico e conduta;
ð Exame físico
o Geral: mais detalhado
possível;
§ Alterações da pele:
adenoma sebáceo, manchas café-com-leite/neufibromas periféricos, angioma facial
o Exame neurológico:
orientação da investigação semiológica;
o Exame laboratoriais:
hemograma com VHS, eletrólitos, glicemia, cálcio, magnésio, testes de função
hepática, teste de função renal, toxinas no sangue e na urina, VDRL (sífilis),
FTA-ABS (sífilis congênita no recém-nascido) e dosagens hormonais;
ð Estudo do LCR:
indicado em suspeita de infecções no SNC. Obrigatório em HIV+ que apresentam
distúrbios convulsivos, mesmo na ausência de sinais sintomas de infecção;
ð EEG: realizado em
todos os pacientes para classificar o tipo de convulsão e evidenciar a presença
de determinada síndrome epiléptica. EEG ideal deve ser realizado após privação
do sono, pois aumenta a sensibilidade do exame;
ð EEG prolongado com
videomonitorização: para pacientes com provável tratamento cirúrgico da
epilepsia;
ð Neuroimagem:
determina a existência de anomalias estruturais;
5. Diagnóstico diferencial das
convulsões
ð Síncope: síncope
vasovagal, arritmia cardíaca, cardiopatia valvar, insuficiência cardíaca,
hipotensão ortostática;
ð Distúrbios psicológicos:
convulsão psicogênica, hiperventilação, ataque de pânico, síndrome do
descontrole espisódico, pseudocrises;
ð Enxaqueca: enxaqueca
confusional, enxaqueca basilar;
ð Distúrbios do sono:
narcolepsia, mioclonia benigna do sono, terror noturno;
ð Distúrbios do
movimento: tiques, mioclonia não-epiléptica, coreoatetose paroxística, ataxia
familiar paroxística.
6. Tratamento
ð Emergencial:
o Deve ser direcionada
à causa, se esta for conhecida;
o Convulsões associadas
a distúrbios metabólicos e sistêmicas geralmente respondem pouco aos
anticonvulsivantes, mas cessa com a correção da causa subjacente;
o Medidas de suporte:
antenção do sinais vitais, suporte ventilatorio e cardiovascular;
o Correção da causa
subjacente: avaliação laboratotial (glicemia, testes de função hepática e
renal, hemograma, VHS e toxicologia, dosagem hormonal);
o Estabelecer acesso
venoso;
o Administrar glicose
(50g) e tiamina (100mg) IV;
o Anticonvulsivante:
imediatamente. Nas crises usa-se:
§ Carbamazepina;
§ Etosuximida;
§ Gabapentina;
§ Lamotrigine;
§ Fenioína;
§ Primidona;
§ Valproato;
o Anticonvulsivante de
manutenção: usados quando existe risco de recorrência, exame neurológico
anormal, convulsoes manifestas com estado de mal epiléptico, paraliseia de Todd
pós-ictal (fraqueza unilateral transitória no período pós-ictal, sugestiva de
lesão cerebral focal como causa e necessidade de investigação), historia
familiar de convulsões, EEG anormal;
Obs.: 1) Parciais e secundariamente
generalizadas: carbamazepina, fenitoína, primidona e fenobarbital. 2)
Secundaria/e generalizadas: valproato e carbamazepina. A fenitoína provoca
hipertrofia gengival, hirsutismo e traços mais grosseiros. 3) Início
generalizado: valproato. 4) Ausências: etossuximida e valproato 5) Mioclônicas:
clonazepam 6) Considerar Tto cirúrgico quando as crises não respondem à
medicação ou prejudicam a qualidade de vida. 7) Suspensão da medicação:
controle inicial com monoterapia, poucas crises antes da remissão, EEG e exame
neurológico normais e intervalos mais longos entre as crises(2 a 4 anos).
ð Estado do mal
convulsivo: convulsão que persiste por certo tempo ou se repete com tal
freqüência que não permite a recuperação da consciência entre ela, é uma
emergência médica.
7. O que fazer na crise:
ð Mantenha-se calmo e
acalme quem assiste à crise;
ð Desaperte a roupa à
volta do pescoço;
ð Permaneça junto da
pessoa até que volte a respirar calmamente e
comece a acordar;
ð Coloque a pessoa de
lado com a cabeça baixa, de modo a que a
saliva possa escorrer para fora da boca;
ð Ponha qualquer coisa
macia debaixo da cabeça, ou ampare esta com a sua mão, impedindo-a de bater no
chão ou contra objectos;
ð Ofereça-se para
ajudar no regresso a casa ou chamar alguém da família.
8. O que não fazer:
ð Não meta na boca da
pessoa (nem colher, nem objecto de madeira, nem lenço, nem dedos). Não puxar a
língua;
ð Não a tente acordar,
não a force a levantar-se;
ð Não lhe dê de beber.
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